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BAOBÁ - Praça do Fortim, Carmo e Bairro de Rio Doce

Atualizado: há 2 dias

Os baobás (Adansonia digitata L.) constituem uma das espécies arbóreas de maior relevância simbólica para as sociedades africanas e afro-diaspóricas. Reconhecidos pela imponência de seus troncos, pela longevidade excepcional e por sua capacidade de armazenar grandes volumes de água, os baobás tornaram-se ícones culturais associados à memória ancestral, à resistência e à transmissão de saberes tradicionais. Originários majoritariamente das regiões subsaarianas da África, esses espécimes foram incorporados ao território brasileiro durante o período colonial, trazidos pelas populações africanas escravizadas, que carregavam consigo não apenas técnicas de cultivo, mas também cosmologias, rituais, valores e referências simbólicas.

Assim, a presença de baobás no Brasil, e particularmente em Pernambuco, não pode ser compreendida apenas do ponto de vista botânico. Ela constitui um marco histórico da diáspora africana e da permanência das culturas, espiritualidades e formas de resistência que sobreviveram apesar da violência do tráfico transatlântico. Cada baobá plantado tornou-se um elo entre o continente africano e as novas territorialidades obrigatoriamente construídas no contexto da escravização, funcionando como depositário de memórias, espaço de proteção e, muitas vezes, de culto.

Os baobás de Olinda: história, permanência e disputas territoriais

No município de Olinda, diversos exemplares destacam-se como monumentos vivos, sobrevivendo às transformações urbanas, ao avanço imobiliário e às políticas públicas nem sempre comprometidas com a preservação ambiental ou com a memória negra. Por sua dimensão histórica e simbólica, os baobás olindenses constituem um patrimônio natural e cultural ainda pouco reconhecido pelo poder público, mas amplamente valorizado por comunidades tradicionais, pesquisadores, militantes do patrimônio e movimentos negros.

O baobá situado na Praça do Fortim do Queijo, no Bairro do Carmo, é considerado o exemplar mais conhecido e mais preservado atualmente. Sua presença transformou-se em ponto de referência para moradores, visitantes e estudiosos, não apenas por suas características físicas, mas pelo reconhecimento comunitário que possibilitou sua proteção, incluindo cercamento e ações de conservação. Este baobá funciona como um importante marco da memória afrodescendente em Olinda, frequentemente associado a narrativas de ancestralidade e resistência cultural.

Outro exemplar importante localizava-se no Bairro de Jardim Atlântico. Tratava-se de uma árvore centenária cuja derrubada, em 2016, para execução de uma obra estatal, desencadeou forte comoção social. Diversos grupos ambientais, culturais e religiosos denunciaram o ato como uma forma de violência patrimonial, ambiental e simbólica, evidenciando as tensões existentes entre projetos urbanísticos e a preservação de bens ligados à memória coletiva da população negra.

No Bairro de Rio Doce, permanece outro baobá que resiste apesar de sucessivas tentativas de remoção ou destruição. Sua permanência fortalece debates sobre direito ao território, preservação ambiental e proteção de espaços sagrados ligados às religiões de matriz africana. Este exemplar, em particular, simboliza a persistência de práticas culturais e espirituais frequentemente invisibilizadas no espaço urbano.

Simbolismo, espiritualidade e ancestralidade

Além de sua relevância histórica, os baobás possuem profundo significado espiritual para comunidades afrodescendentes. Na cosmologia de vários povos africanos, especialmente entre os grupos mandingas e iorubás, o baobá é interpretado como uma árvore sagrada, associada à sabedoria ancestral, à fertilidade, à cura, à vida comunitária e ao equilíbrio entre o mundo material e o espiritual.

No contexto brasileiro, esses sentidos foram preservados e reinterpretados pelas religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda. Os baobás passaram a marcar territórios sagrados, áreas de culto, locais de oferendas e rotas espirituais, tornando-se símbolos de pertencimento e continuidade cultural. A presença de um baobá, portanto, é também a presença de uma memória viva, de uma história que não foi apagada e de um saber que atravessa gerações.

Patrimônio, memória e preservação

A preservação dos baobás em Olinda ultrapassa o campo ambiental, alcançando dimensões patrimoniais, educacionais e sociais. Como testemunhos silenciosos da diáspora africana, eles representam:

  • a resistência de saberes e práticas ancestrais,

  • a valorização das comunidades negras e de suas cosmologias,

  • a disputa por reconhecimento no espaço urbano,

  • a preservação de um patrimônio natural raro e vulnerável,

  • e a defesa da memória coletiva que constitui a própria história da cidade.

Assim, compreender, proteger e valorizar os baobás de Olinda significa reconhecer sua ligação profunda com as populações afrodescendentes e com o legado cultural africano que moldou o Brasil. São árvores que narram histórias não registradas em documentos oficiais, carregando em seus troncos e raízes séculos de resistência, espiritualidade e identidade.

BAOBÁ DE RIO DOCE  - Mônica Nogueira
BAOBÁ DE RIO DOCE - Mônica Nogueira

Baobá Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos- Mônica Nogueira
Baobá Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos- Mônica Nogueira
BAOBÁ CARMO- Mônica Nogueira
BAOBÁ CARMO- Mônica Nogueira

 
 
 

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